domingo, 20 de abril de 2014

DE MIAUS... COCORICÓS... E COELHOS


 
Pois aqueles miados não eram de sedução pra cima de Isadora, ela que recém procriara e andava às voltas com as crias. Eram, na verdade, um alerta para que seu dono não se arriscasse tanto.

De nada adiantou. Soube, tempos depois, que alguém até escrevera sobre sua angústia, algo com o título de MENOS, MEU DONO, MENOS..., na já distante data de 5 de fevereiro de 2009.

O senhor Eurico, seu meio-pai, foi recentemente exonerado, não se sabe bem se do cargo ou da função que exercia. Demorou tempo, mas aconteceu.

Ele avisara, miando pelos quatro cantos da casa. Seu esforço para livrar o meio-pai não teve êxito.

Pois botar a mão na coisa furtada, trilhando sendas e caminhos tortuosos, com a conivência de outros iguais, torna-se mais difícil e mais lenta a descoberta da falcatrua. E o nome do beneficiado, também, certamente, colaborara para não despertar suspeitas. Afinal de contas, Billy é um nome respeitável, em que se vislumbra algum futuro. Mas de nada adiantou. Um dia, seu meio-pai virou as "cangaias".

E hoje, Billy, seu filho, anda em busca de referências. Não sabe mais onde anda todo o pessoal da casa. Parece que o abandonaram a Deus dará. E nem Isadora aparece mais. Os miaus são, agora, de tristeza, solidão. Até já nem ostenta aquele miado barulhento que é característico de um namoro de gato. Até parou de namorar... Por ora, por ora!



História bem diferente foi a de Epaminondas. Conhecido, na redondeza, como Epa. Na realidade, era assim chamado por Dona Geneci, quando se excedia nos galanteios sobre qualquer coisa que apresentasse penas.

Parece que só se continha ao ouvir "Epa!", ou quando aparecia a Mindinha. Daí percorria garboso, sempre junto da cerca, mantendo a distância regulamentar, só para melhor impressionar. Mindinha era diferente das outras. E tinham muitas à sua disposição. Dona Geneci tinha posto nomes em todas e também nele, o seu rival, o Safa. Nunca soube o porquê desse nome. Provavelmente, fosse uma abreviação do nome completo.

O tal não jogava limpo. Estava sempre se fazendo e olhando de revesgueio. Por isso, Epa estava sempre de olho nele. Principalmente, quando aparecia a Mindinha por perto.

Depois que ele surgira no pedaço, tinha perdido a graça a vida mansa que levava o Epa.

Agora, infelicidade foi mesmo quando foi agarrado pelas asas junto com a Gabi, metida que só ela, e levados embora por um cara chamado, pasmem, Afanásio.

Tudo feito às claras, sem grandes armações. Portanto, só podia dar no que deu. Um trabalho de aprendiz de ladrão. Algo horroroso! E para piorar, com testemunhas que flagraram a ação.

O tempo que passou, não sabe onde, foi de grande angústia para o Epa. Principalmente, é claro, porque a Mindinha estava, agora, à mercê do Safa.

Com a graça de Deus, o imbróglio terminou rápido. Em pouco tempo, ele e a sirigaita foram devolvidos ao antigo lar.

Paira, até hoje, a dúvida se Mindinha cedeu aos cocoricós do Safa.

Nada melhor do que o tempo para o Epa se recuperar.

Agora, o afanador de penosas, chamado Afanásio, continua mais enrolado que namoro de cobra.

E tudo isso por falta de conhecimento dos meandros dos grandes golpes. Se quiser subir na vida, vai ter que se apoderar de meios mais sutis de apropriação. Afanásio terá que aprender o que é articular-se. Do jeito que foi feito, só podia ter um desfecho rápido na elucidação, embora longo na tramitação. Acredita-se que tenha, urgentemente, que trocar de nome, porque o seu depõe contra ele próprio, de plano.

Após isso, aprender com os grandes articuladores, aí não se incluindo o meio-pai do Billy, porque também esse se deu mal.

Outros tantos maus exemplos existem para inspirar-se. É tudo questão de pensar grande, isto é, pensar em grandes golpes. Deixar de ser ladrão de galinha, pô!

Agora, o bom mesmo é ter o respaldo de uma festa por trás da sua figura. E o coelho sabe disso. Por isso, nem precisa fazer barulho. Nada de miaus e cocoricós. Há quem sustente que o coelho é tão fogoso que, se desse um só chiadinho, ouvir-se-ia uma profusão de coelhinhas gemendo.



Brincadeiras e ironias à parte, e independentemente da figura do coelho, a Páscoa é época para se refletir sobre o seu significado, termo que em hebraico, Pessach, quer dizer passagem.

É necessário que ultrapassemos o desencanto e renovemos a crença nas Instituições.

Que mantenhamos a expectativa de surgimento de lideranças probas, capazes de dar bons exemplos às novas gerações.

Que renasçamos como uma sociedade de indivíduos dignos de representá-la.

Reflitamos, a cada nova Páscoa, sobre nossas atitudes em prol do coletivo, pois nele estamos inseridos e só com ele é que poderemos construir a passagem para um momento mais iluminado dessa nossa civilização planetária.

E que se tornem mais frequentes gestos como o que aconteceu com Aninha.

Quando foi buscar um relógio, que deixara para conserto numa conhecida relojoaria da Avenida Getúlio Vargas, em Porto Alegre, foi informada que dos R$ 10,00 (dez reais), que deixara como pagamento do conserto, devolviam-lhe no ato R$ 7,00 (sete reais), porque ela encontrara a minúscula peça que faltava e levara até eles. Então, o conserto ficara por R$ 3,00 (três reais). Um valor tão insignificante que nem desconfiaria se a quantia de R$ 10,00 (dez reais), já paga, considerada esta também irrisória pela própria cliente, permanecesse como pagamento do serviço.

Esse, como tantos outros gestos de igual relevância para o coletivo, é digno de menção sob o título:

AQUELES CIDADÃOS QUE FAZEM DIFERENÇA

 
Uma FELIZ PÁSCOA a todos.



Assistam, a seguir, a dois vídeos com mensagens para reflexão, sob um inspirador fundo musical. Boa audição.

 

 
 
 
 

Vídeo Páscoa
 
 
 
 
Oração de Páscoa
 
 
 
 
 
 
 

sábado, 12 de abril de 2014

A RECOMPENSA


 
Para mim, uma leiga e simples observadora, a coisa mais visível da passagem do tempo, quase instantânea, é a mudança, com o piscar dos olhos, no desenho das nuvens no céu. As bordas das nuvens se redesenham em milésimos de segundo. É o instante que não perdura.

E o que é o instante?

É uma porção brevíssima de tempo?

Segundo um grupo de cientistas alemães e espanhóis, que tratou desse assunto, o tempo de duração de um instante é de 320 attosegundos. E um attosegundo corresponde ao trilionésimo de segundo.

Que coisa mais difícil de imaginar!

Os primeiros raios de luz da manhã, seguidos da luminosidade intensa ao longo do dia, dá-nos a possibilidade de acompanhar o tempo que vai seguindo o seu curso até o anoitecer, completando-se com a total escuridão que recai sobre nós a cada fim de dia.

O passar dos dias, meses e anos também possibilita a percepção desse senhor implacável chamado Tempo.

Mas quando o tempo dura um piscar de olhos, essa percepção torna-se assombrosa. 

Mario Quintana, em seu Caderno H, escreveu sobre o Tempo: 

"Coisa que acaba de deixar a querida leitora um pouco mais velha ao chegar ao fim desta linha".

E o tempo continua a fluir, imperceptível, a partir daquela linha referida. 

O interessante, porém, é que aquele trecho lido continuará lá, no mundo dos livros, embora venham a se passar 200 anos. 

O ser humano, por outro lado, dura tão pouco frente às obras construídas por ele próprio.

As pirâmides estão lá e a Acrópole de Atenas também resiste ao tempo. 

As águas do rio fluem, sempre sendo diferentes a cada fluir, assim como somos também diferentes a cada instante. Heráclito já explicara, há muito tempo atrás, essa condição nossa e da natureza. Nós, humanos, estamos em desvantagem, porém. 

A nós não é dado esse privilégio de acompanhar as obras, produto nosso, pelos séculos afora. 

Claro que, se assim ocorresse, o globo terrestre não suportaria tamanha quantidade de gente, considerando-se a natalidade permanente. Há que se abrir espaço para outros que vão chegando. 

Agora, um rio, embora diferente a cada instante, estará sempre ao nosso alcance: ontem, hoje e até quando possamos dele usufruir. Que isso não nos cause pressa, porque ele estará lá a nossa espera. 

Ainda segundo Quintana, o segredo da eternidade repousa na seguinte assertiva: 

"Naquele seu ímpeto ascendente e embora retombe a cada instante, ninguém, nem ele mesmo o sabe: o repuxo é o eterno recém-nascido". 

O que significa que esse rio estará lá presente a cada repuxo, perpetuando-se. 

E nós? Onde estaremos? 

Estaremos representados na figura do nosso filho? 

Mas, se cada um de nós é insubstituível, como sair desse dilema? 

Sobra a nós apenas a lembrança do ancestral, através da sua própria imagem ou de suas obras. Essas são as que permanecem para serem vistas, reverenciadas ou até execradas, dependendo do valor positivo ou negativo que encerrem. 

Nada, portanto, é tão passageiro quanto a condição de ser humano ou de pertencer ao reino dos seres vivos. 

Assim, calma, Coimbra! 

O rio Guaíba continua no mesmo lugar, talvez algumas margens tenham se estreitado ou se alongado, mas suas águas continuam correndo. E para algum lugar correm, com certeza. 

E nós? 

Temos ainda tempo de acompanhá-lo, porque ele se renova a cada repuxo. Ele é para os séculos.

Quanto a nós? 

Cuidemos das nossas atitudes, nossas ações e obras, porque é o que deixaremos. E que, com certeza, não durarão séculos. Apenas uns poucos anos até que caiam no esquecimento.

A menos que nos enquadremos na galeria dos grandes luminares da Humanidade. O que, a essas alturas, acho que não faz grande diferença. Pela simples razão de que do outro lado, se é como dizem, o que contará serão os gestos de amor, solidariedade e fraternidade com os próximos a nós e com aqueles que vierem até nós. 

O que se leva e vale é o AMOR, já diz a letra da música O QUE SE LEVA de Guilherme Arantes. 

E o céu estará garantido. 

Acho, sinceramente, que essa será a melhor recompensa

Os séculos que se passem, então. Tal como Marcel Proust, Henri Bergson, Walter Benjamin também passaram com suas importantes teorias sobre o Tempo, os quais, considerados por muitos, foram grandes luminares do pensamento. 
 
 
 
 
E eu, de repente, dou com os olhos na ampulheta, no quadro em frente a mim. 

Ela está por sobre livros em cima de uma mesa. Não há movimento algum. Acho que o tempo parou! 

Desvio o olhar depressa para o céu em busca delas, as nuvens. Essas continuam a fornecer dados visíveis do fluir do tempo. E acho que é bom vê-lo passar, pois assim acompanhamos o processo contínuo de seu movimento. E isso é pura energia. 

E é disso que precisamos.
 

 
 
 
 
 
O Que Se Leva  - (Temor ao Tempo) – Guilherme Arantes  
 
 

Oração ao Tempo – Caetano Veloso

 
 
 
Trechos:
 

 

sábado, 5 de abril de 2014

PARA OS ANAIS DOS ESPETÁCULOS DE PORTO ALEGRE




Para quem foi acostumada a conviver entre duas cores reverenciadas, uma pelo pai e outra pelo único tio que tive, assistir, muito atenta, à reinauguração do Estádio Beira-Rio foi bastante gratificante. Meu pai teria gostado de estar presente. Sua filha acredita que o representou, de forma emocionada, na festa/espetáculo desse dia 5 de abril de 2014. E ela assistiu à festa, comodamente instalada em sua sala. Mesmo assim, pôde constatar a grandeza do evento.

O conjunto da produção do espetáculo mereceu todos os aplausos, que ressoaram para além do estádio. Foram duas horas e meia de uma apresentação de pura paixão e emoção. A produção musical, a cargo do maestro Dudu Trentin, demonstrou perfeita sincronia entre os músicos da orquestra Unisinos/Anchieta, o coral de 200 vozes e as bandas que se iam sucedendo durante o espetáculo. Ele compôs todas as trilhas, cabendo ao maestro Evandro Matté a regência da imensa orquestra e coral. Participaram da festa 1500 pessoas em cena, entre atores, orquestra, bandas e bailarinos. Foram usados 3000 figurinos. A plasticidade das cenas aliada à tecnologia, que lhe serviu de suporte, apresentou ao público a parte histórica do clube ao longo do tempo. O barco singrando as águas do rio foi emblemático acerca das dificuldades enfrentadas com a localização do estádio. Nada, porém, que não pudesse ser solucionado com o passar do tempo e com os esforços de todos os que se empenharam na construção de um sonho, destacando-se a campanha de doação de tijolos que movimentou 35 famílias voluntárias.
A narração, como background, com textos de conhecidos cronistas gaúchos e os telões repassando os diversos momentos históricos do clube, foram carregados de luz, tal qual o golo de Elias Figueroa, chamado por ele próprio de o golo iluminado. Graças a esse único golo, feito aos 12 minutos do 2º tempo, o Internacional conseguiu o seu primeiro título brasileiro em 1975, jogando contra o Cruzeiro de Minas Gerais.
E as décadas iam-se somando sob os acordes da 9ª Sinfonia de Beethoven e a encenação de obras reconhecidas de Leonardo Da Vinci, Picasso, Salvador Dali. Tudo sincronizado, tal qual o voo de Dadá Maravilha, no ano de 1976, quando o Internacional venceu o Corinthians por 2 a 0 no Beira-Rio, sagrando-se bicampeão brasileiro.
O ano de 1989 ficou nos anais do clube, pois aconteceu o chamado Grenal do Século, o de nº 297, vencido pelo Internacional por 2 a 1, disputado no Beira-Rio e que teve o maior público de Grenais em Campeonatos Brasileiros. Foram 78.083 pagantes. A década de 80 foi de conquistas, com 14 títulos no total.
Momentos difíceis e momentos de glória foram relembrados.
Com muito trabalho e confiança no plantel, os feitos recomeçaram a partir do século XXI. E Adriano Gabiru seria o grande nome, com a ajuda dos demais companheiros, na conquista do Mundial de Clubes da FIFA, em 17 de dezembro de 2006, no Japão. No mesmo ano, pela primeira vez, o clube já conquistara, em 16 de agosto, a Taça Libertadores da América. O que se repetiria em 2010, tornando-o bicampeão do mesmo certame.
Quanta história desde 1909! São 105 anos de vida e 45 anos da reinauguração do estádio Beira-Rio, aberto oficialmente em 6 de abril de 1969, cuja construção iniciou-se em 1959.
Esses fatos todos fazem parte da história da cidade de Porto Alegre.
Fico feliz em ter assistido a um espetáculo tão bonito, o que demonstra a capacidade de trabalho, o empenho de tantos interessados, o aporte considerável de recursos na concretização das obras e do espetáculo.
O mesmo ocorreu com a outra agremiação, tão cara aos gaúchos, quando da sua inauguração em 2012.
Assistimos, na oportunidade, a um espetáculo e a uma plateia merecedora do aplauso da sociedade porto-alegrense como um todo.
Para os amantes do futebol, como esporte de massa, é um orgulho termos um gigante e uma arena representando o Estado para fora dos seus limites. Para um mundo globalizado, serão ambos os estádios uma vitrine da cidade que se diz alegre.
Portanto, está de parabéns o diretor artístico Edison Erdmann, responsável pela organização de todo o espetáculo da reinauguração do Estádio Beira-Rio.
O vermelho pelo espelho, finalmente, passou.
O azul do mar, há algum tempo, já chegou.
Uma última palavra àqueles que esperam o mesmo espetáculo, assistido no último dia 5 de abril, para:
- a reinauguração, com nível de excelência, de um grande hospital;
- a construção de centenas de UPAs, dentro das normas técnicas, com um quadro médico e técnico pronto a prestar os primeiros socorros, incluindo-se medicamentos básicos e material compatível com as necessidades do eventual paciente;
- a implantação, nos colégios, de infraestrutura condizente com as necessidades do ensino-aprendizagem;
- a despoluição de nossos arroios e riachos;
- um substancial melhoramento no transporte coletivo;
- o saneamento básico, ainda deficitário, em algumas comunidades;
- uma segurança mais presente no dia a dia e não apenas em grandes eventos;
- uma gestão honesta e eficiente de pessoal e recursos nos serviços prestados à comunidade pelo poder público.
Tudo, claro, com o padrão FIFA, porque os botocudos já sabem, agora, o que é o tal padrão. Sem desmerecer o povo indígena, já extinto, que habitava regiões do país. Referimo-nos a nós próprios, esse pessoal rude e grosseiro que não conhece o que são as benesses de uma vida de qualidade. Todos nós aguardamos, de ora em diante, um padrão FIFA de serviços. É o grande desejo de toda a sociedade brasileira.
E o impostômetro? Pelo controle digital, desde o primeiro dia de 2014 até esse exato momento, dia 7 de abril, às 19 horas e 30 minutos, a arrecadação está na cifra de R$ 469 bilhões, 246 milhões e..., já superando a marca atingida na mesma época do ano passado. Impossível acompanhar tal voracidade e rapidez... No ano de 2013, ao que parece, a marca atingida foi de um trilhão e 700 bilhões de reais.
Para os colorados fica a certeza de que com a ajuda inicial daqueles tijolos construiu-se um sonho e dele fez-se não um castelo de areia na beira de um rio, mas um gigante da própria história.
Fiquem, agora, com a beleza de O AMANHÃ COLORIDO e NUVEM PASSAGEIRA, duas joias, compostas por gaúchos reconhecidos, que abrilhantaram a festa de reinauguração.





 


O Amanhã Colorido - Pouca Vogal
Nuvem Passageira - Hermes Aquino