Tenho para mim que ele buscou melhorar suas condições de vida. Nada mais justo. E suas dimensões pequenas foram um facilitador. Foi criativo o seu agir e não teve preguiça. Acabou num SPA, conforme disse o biólogo Ricardo Freitas do Instituto Jacaré.
O problema é que depois que chegou ao SPA, mais precisamente ao Lago da Quinta da Boa Vista, zona norte do Rio, a vida no lago não foi mais a mesma. Eram aves e peixes pulando pra todos os lados, tentando escapar da sanha do Robinho, um jacaré-de-papo-amarelo, macho, medindo 1 m e 26 cm e pesando 4 kg e 260 gramas.
O pânico instalou-se entre aqueles que costumavam passear de pedalinho pelo tranquilo lago.
E Robinho lá dentro, sem concorrente, solito no más, nadando em água quentinha e tirando, vez por outra, uma soneca em pequenas grutas existentes.
Que maravilha!
Diga-se de passagem, não se pode culpá-lo por essa fuga do Parque Chico Mendes. Segundo relatos, as coisas não andam mais como antigamente por lá. A fauna, não mais diversificada como no passado, o isolamento do próprio parque dificultando o fluxo gênico, o assoreamento e poluição da Lagoinha, isso tudo explicaria as escapadas dos jacarés para fora dos limites do parque.
Então, foi em busca de mais alimento, liberdade e emoção. Dessa maneira, adentrou pelas galerias de águas pluviais da região, indo parar no Lago da Quinta da Boa Vista. A felicidade, porém, durou pouco. Durante 72 horas fez o que pôde, driblou com competência todos os seus marcadores. Por isso, foi apelidado de Robinho, nosso conhecido jogador. Finalmente, refugiado dentro de uma gruta, foi capturado. Segundo o biólogo, a captura foi no laço, manualmente. Nada sofreu. Foi devolvido ao Parque Chico Mendes novamente.
Os frequentadores do Lago deram graças a Deus, pois estiveram, por um tempo, mais a perigo que minhoca em galinheiro.
De qualquer sorte, provou ele a sua capacidade de driblar não só aos seus captores, confirmando a “tese” de que é possível migrar, quando se quer verdadeiramente, para outras paragens, para qualquer outro mundo, considerando-se aqui uma nova visão no mundo das ideias, ou no das relações societárias, ou no do seu “eu” consigo próprio. Tudo em prol de uma melhoria nas condições de vida pessoal e em sociedade.
Basta que saibamos encontrar as alternativas melhores e corretas (não os arranjos chicaneiros), driblando com competência as dificuldades que se impõem a quem resolve enfrentá-las.
Segundo Charles Watson, professor na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro:
“A preguiça bloqueia a criatividade”.
Acrescenta, mais adiante:
“Todo mundo tem ideias. Quando você tem uma ideia que acha muito especial, pode contar com o fato de que outras 250 mil pessoas tiveram essa ideia. A diferença está em quem decide concretizá-la e isso envolve intenso trabalho”.
(Fonte: ZH de 31/05/14 – p.23)
Exemplo incontestável traz a reportagem, também de Zero Hora, de 1°/06/14, p.46, que leva o título de A Formatura do Ano, conforme link abaixo.
Nela fica demonstrado que a falta de dinheiro e de apoio da família para estudar não foram obstáculos suficientes que impedissem a jovem vietnamita Tay Thi, de 20 anos, de ser a primeira pessoa de sua comunidade a ter formação universitária. Vale a pena a leitura dessa reportagem.
Então, valendo-me do já famoso “Robinho”, cujo drible foi exitoso, pelo menos por um tempo, dispenso, de propósito, o aspecto do acaso. Não foi por acaso que caiu ele nas galerias de águas pluviais. Saiu, isso sim, em busca de mais alimento. Foi à luta.
Pois é! Quando indago de um jovem sentado no meio-fio da Avenida Getúlio Vargas, por que ele não arranja um trabalho, ele confessa, pausadamente, que não quer trabalhar. Prefere ficar sentado onde está, recebendo moedas, que não lhe darão futuro algum. Moedas dadas para acalmar a consciência de quem se condói com a cena.
Errado ele, pobre mendigo. Errados nós, que não cobramos do Estado soluções concretas, viáveis e aplicáveis a todos os que perambulam pelas esquinas, se avolumam embaixo de marquises, viadutos e pontes ou, displicentemente, sentam-se em frente a estabelecimentos bancários e restaurantes, aguardando que do céu caiam benesses que só com o trabalho é possível tê-las. Consegui-las de outro jeito, sabe-se, ou é mendicância, e aí deve o Estado direcionar políticas para resgatar esses indivíduos da rua, capacitando-os para o trabalho, ou é crime e merece uma legislação repressiva e extensiva a todos os que incorrerem nessa prática. Sempre atenta, porém, à ressocialização desse indivíduo, que é o objetivo último.
Portanto, drible bom mesmo é aquele dado por quem, frente a dificuldades de toda a ordem, busca o melhor caminho para atingir seus objetivos. Sempre, é claro, dentro da ética, do respeito e do bom senso. Aquilo que, antigamente, chamava-se de “bom caráter”.
Por ora, a partir de 12 de junho, esperam-se muitos dribles dados pelos nossos jogadores, para que consiga a Seleção Brasileira atingir o seu objetivo maior que é a conquista do Hexacampeonato Mundial de Futebol.
Torçamos para que haja muitos dribles e que, pelo menos alguns desses dribles, sejam contra o goleiro, atingindo a rede adversária com sucesso. Qualquer coisa, a gente convoca o jacaré Robinho, que é bom de drible.
A bola vai rolar...
Depois da festa?
Bem, vencedores ou não, está mais do que na hora de mudarmos o paradigma do famoso “jeitinho brasileiro”. Isso não é driblar dificuldades. Isso só nos atrasa e nos deprecia frente aos outros e a nós mesmos.
Mais foco, determinação e disciplina, palavras-chave de conhecido empresário brasileiro, com o qual concordo plenamente, resultarão em objetivos alcançados. Claro, tudo com muito trabalho.
Desejando que a Seleção Brasileira faça muitos gols, lembremos, agora, da música que consagrou o espetacular gol marcado por Fio Maravilha, jogador do Flamengo, em partida contra o Benfica em janeiro de 1972, assistida pelo flamenguista Jorge Ben Jor e que resultou na música Fio Maravilha, gravada no mesmo ano, que entrou para a História da Música Popular Brasileira. Seguem, abaixo, dois vídeos que reproduzem a canção Fio Maravilha. A primeira apresentação traz apenas o áudio da música, ainda com sua letra original. O segundo vídeo, ao vivo, Jorge Ben Jor, por razões de direito autoral, em ação movida pelo jogador João Batista Sales, o Fio Maravilha, contra ele, modifica a letra trocando as palavras Fio para Filho e Galera para Magnética. Isso deixou um tanto quanto estranha a letra, não perdendo, porém, a batida que consagrou a música.
Fio Maravilha - Jorge Ben Jor (letra original)
Filho Maravilha - Jorge Ben Jor