Domingos e feriados? Nem pensar.
Sábados? Talvez.
Durante os cinco dias úteis? Com muito cuidado.
Esta é a realidade atual.
Que saudades da vila onde aquela menina morava!
Ia a pé, sozinha, até a escola não tão próxima.
Isso já faz um bom tempo!
Não tanto tempo faz, porém, que ia assistir, com a mãe idosa, a um show no Gigantinho.
Voltavam já tarde, caminhando pelas ruas próximas até a residência.
QUE SAUDADES!
A beleza da lua, que as acompanhava, era vista como um presente do céu.
Esta foi uma época em que eram vistas como seres humanos, não necessitando de códigos e números para adentrarem em suas residências.
Sentir o ar puro do entardecer, caminhando pelas ruas do bairro. Sequer pensava-se em atentar a quem se aproximava.
Éramos felizes e não sabíamos.
A jovem de ontem, despreocupada com o seu entorno, cedeu lugar a uma mulher constantemente atenta a quem se aproxima.
Será que a lua perdeu seu encanto quando esta mulher a vê no retorno de uma caminhada?
Não, seu encanto permanece. Vê-la, porém, é bem mais seguro da janela de sua casa?
Não. Melhor mesmo é que seja da janela de um apartamento com porteiro 24 horas.
E as luzes que iluminam a noite não parecem amedrontar quem se esgueira pelas ruas com o propósito de promover atos de invasão a áreas privadas.
Com certeza, não mais existirão casais que, sob o luar, trocarão juras de amor.
Aliás, a própria lua deve andar triste, pois não é mais fonte de inspiração para tais juras de amor.
Talvez, ainda, a lua seja inspiração para algum poeta.
Quem sabe um poema, escrito pelo ser amado, seja ainda bem recebido por aquela que o aguarda sob a luz do luar.