quinta-feira, 7 de novembro de 2024

DESEJO...



Durante a caminhada, esperar o quê?

Foi-se a época em que nossos olhos pousavam em belas imagens advindas de quem, também, exercia o direito, em segurança, de fazer sua caminhada pelo bairro onde morava. Eram sorrisos e cumprimentos de bom-dia para quem encontrávamos.

Hoje, isso não mais existe. A desconfiança e o receio de um encontro indesejado é uma sensação permanente de quem caminha pelas ruas de seu bairro. Poderíamos acrescentar que essa preocupação é permanente em qualquer bairro dessa cidade que já foi “alegre”.

É necessário acrescentar, porém, que, mesmo assim, alguns caminhantes persistem nessa prática.

É necessário que se faça frente a essa insegurança adotando comportamentos que, infelizmente, tira-nos o brilho dos olhos ao assistir seres humanos dormindo sob marquises ou, mesmo, agredindo quem ousa passar por perto.

Parece haver uma total indiferença do Poder Público a este estado de coisas. Até quando?

O cenário que atinge alguns bairros é desolador.

Temos, ainda, além da insegurança, a sujeira que se faz presente junto aos contêineres.

Em que se transformaram alguns bairros de nossa cidade!

As crônicas do nosso cotidiano, para quem escreve, está tornando-se um exercício difícil, pois coitado do leitor que lerá algo que não lhe trará satisfação alguma.

Será que os munícipes têm interesse em que sejam resolvidos tais problemas?

Diante deste quadro, o olhar de um cronista tem que cercar-se de outro olhar: o de um poeta. Para este último, talvez, haja uma luz no fundo do túnel.

Lá, onde é possível enxergar a esperança.

Quem sabe...


Segue um poema que é um desejo de ver nossa cidade voltar a ser ALEGRE novamente.







































segunda-feira, 14 de outubro de 2024

A VOZ



Mas que tom de voz!... Que coisa inebriante, suave, ao mesmo tempo sensual, era aquela voz. Samantha nascera assim. Desde pequena, já deliciava os ouvidos de quem a cuidava. A cada raro choramingo, ouvi-la era um prazer renovado. Tinha também um ouvido apuradíssimo, capaz de ouvir o cair de folhas ao chão. Quando iniciou seus primeiros passos, apresentou uma mania. Vivia na ponta dos pés. Quando menos se esperava, estava a menina caminhando na ponta dos pés. Isso levou sua mãe a procurar a opinião de um pediatra que, de pronto, lhe assegurou que a pimpolha seria “uma bailarina”. Não havia com o que se preocupar.

Já na escola, seus coleguinhas de aula cercavam-na para estarem próximos àquela voz. Ao ler suas redações, era ouvida com atenção pelos colegas não tanto pelo conteúdo, que, diga-se de passagem, era bom, mas pela voz, pelo tom mavioso que imprimia às palavras.

Assim, foi tornando-se adulta, já consciente do atrativo que sua voz encerrava. Diziam que ao telefone era imbatível. Tornara-se uma voz um pouco mais “caliente”. Imagine declamando um soneto de Shakespeare, articulando um “thou” usado pelo dramaturgo, o conhecido e atual “you”. Sua professora ia à loucura.

Dizem que até comprou um apartamento, só com contatos telefônicos. Apareceu, só ao final, para fechar o negócio.

Seus colegas de trabalho deliciavam-se com sua voz pelo telefone. As pessoas com as quais mantinha contato telefônico, e eram muitas, pois o serviço exigia, ficavam encantadas com aquela voz. Despertava em seus ouvintes uma grande curiosidade. Alguns chegavam a convidá-la para ir até seus locais de trabalho, pois queriam conhecê-la.

Mas nada disso a impressionava. Queria apenas continuar seduzindo por seduzir. Houve até uma vez que exercitou seus dotes, agora no canto, numa encenação de peça famosa de João Cabral de Melo Neto. Foi elogiada por colegas e pela professora, que a distinguiu com uma dedicatória num livro oferecido como brinde – “A uma cantora a se revelar”.

A verdade é que conseguiu fisgar seu marido pela voz, não pela beleza. A cada ligação, a atração crescia um pouco mais. Ao longo dos anos, essa parceria sobreviveu em grande parte pelos poderes dessa voz, que incendiava, acalmava, embalava, ponderava: que amava. Mas, como não se pode mandar NELE, hoje, Samantha está só.

Sabe que ter essa voz sempre foi uma bênção, nunca motivo de preocupação. Pois não é que hoje essa voz tem-se deparado com algumas situações insólitas! Fico a imaginar como Samantha reagirá a ligações reiteradas de pessoas que estão a necessitar de uma palavra amiga, de um incentivo, de um ouvir atento. Há até quem já diga que dorme melhor depois de ouvi-la. Por incrível que pareça, essa voz tem permanecido límpida, sonoramente doce, jovial, envolvente. Mas seu público já não é o mesmo. O que antes era brincadeira da sedução, hoje é a realidade da carência do outro. Deverá Samantha usar sua voz agora para confortar, não mais para seduzir?

Acho que é a hora do devolver. Devolver tudo o que de melhor Samantha recebeu. Tentar entender as necessidades do outro, ao ver-se nelas. Todos nós as possuímos. O tempo dela, de agora, exige reflexão, ponderação, compreensão, empatia. Samantha terá que exercitar também seus ouvidos. Ouvir as pausas, os silêncios. Ouvir quase o inaudível, que nem o som de sua infância, de folhas caídas ao chão. A voz de hoje, porém, é mais exigente, busca a alteridade, um sinal de maturidade.

E como sua voz continua sedutora, embora madura, mãos à obra.

Pois Samantha também está carente. Carente da voz do outro. Não importa qual o tom.

E nesta ciranda da vida, a qualquer compasso se habilita, pois é um “pé-de-valsa”, desde neném.










sexta-feira, 20 de setembro de 2024

USE .............. COM MODERAÇÃO!

 

Para onde está indo a nossa palavra escrita e a reflexão sobre ela?

Dedos, números, senhas e códigos são os nossos companheiros na comunicação atual?

A palavra, como elemento fundamental na comunicação oral e escrita, é algo que está perdendo espaço.

A tela de um celular é o que nos acompanha constantemente. Desde o acordar até o adormecer ela, ligada, tem estado sempre presente.

O que deveria ser um elemento útil, em caso de necessidade, tornou-se objeto do olhar constante de quem possui um celular.

Ao que parece, apenas os jornais, ainda escritos, são objeto de leitura.

E os livros? E seus autores?

Até quando existirão?

Uma leitura de um texto, de forma pausada e atenta, propicia sempre uma reflexão.

Os seres humanos são diferenciados dos animais e das máquinas, pois sempre existiram para levar o conhecimento, a experiência e o convívio entre si mesmos.

Um olhar, um aperto de mão e um encontro são insubstituíveis, assim como a leitura de um livro, cujos textos vão somando reflexões que nos levam ao enriquecimento da comunicação e da nossa vivência cotidiana.

Em um livro, o leitor sempre poderá voltar a buscar trechos que o impressionaram.

Os seres humanos não são autômatos, mas seres aptos a interpretarem o que lhes é repassado, formando opiniões diferentes.

A tela de um celular não se compara a uma página de um livro. Nela, você pode sublinhar e o sublinhado por lá permanecerá para sempre.

Não, é claro, desfaçamos a importância de um celular. A sua existência trouxe-nos mais segurança no nosso cotidiano. Ele é de extrema importância. Mas as vantagens de um texto impresso, em um livro, possibilitam que tenhamos, para sempre, a sua companhia e que possamos recorrer a ele, quantas vezes quisermos, permitindo reflexões diversas ao longo do tempo.

Portanto, use com moderação a sua tela de celular. Ela é útil, quando for necessária a você, leitor.

O que esperar de quem usa a tela durante todo o seu cotidiano, estando em trabalho ou não?

Uma modernidade necessária, porém, usada para a leitura de textos que contenham criação literária de seu autor, nunca revelará a excelência de um texto.