MATEANDO...
- Terta, é uma dinheirama! Não é? Dava pra resolver muitos problemas por aí afora.
- Mas bah, tchê! Nem dá pra imaginar.
- O Dr. Siqueira, lá na fazenda, falou que é uma tal de máquina que pode revolucionar o mundo. Já pensaste?
- O que é revolucionar?
- Acho que é mudar. Só não sei se será pra melhor...
- Será que a gente pode melhorar?
- Quem sabe...
- Tem gente que diz que, quando uma borboleta bate asas na China, muda alguma coisa do lado de cá! E é só um bater de asas. Agora, imagina essa geringonça, mais enrolada que namoro de cobra. Já pensaste? Milhares de canos e fios, todos enroscados lá embaixo.
- Valha-me Deus!
- Pois é Dele mesmo que eles andam atrás, Terta!
- Será que o Patrão-Velho vai mostrar a cara? Vem sem intermediários? Acho tudo muito arriscado. Estão metendo os bedelhos onde não deveriam. Acho que isso não vai dar um quilo.
- E vai que acontece, Terta? Aqueles que estão perto da geringonça vão ser os privilegiados. Vão falar primeiro com o Patrão.
- E nós aqui, nesse fim de mundo!
- Sabes, das duas uma: ou esses caras estão só tirando um tempo, ou estão esperando o cavalo passar encilhado.
- Que nem político?
- É, isso... Todo mundo sabe que todas aquelas baboseiras não vão dar em nada. Mas todo mundo ouve, acompanha, fica esperançoso. E, no final, eles ficam por cima da carne-seca e a gente dá com os burros n’água. Será que lá, como aqui, também não teve gente que levou por baixo do poncho? Afinal, é um dinheirão.
- Pra que tudo isso, Zé?
- Não sei... Passa o mate.
- Zé, olha... A gente já conversa, há muito tempo, com Ele. E Elenunca nos faltou.
- Todos os dias, Terta.
- Todos. Nesse fogo, nesse amargo, no silêncio: a gente está mais grudada Nele que barro em tamanco.
- Pois é...Deixa os moços tentarem.
- Deus tem mais para dar do que o diabo para tirar, Zé.
- Vão acabar dando a mão à palmatória, Terta.
- É, Zé... Nesse pealo, Ele não cai.
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