Chegamos a um impasse. A conquista do mundo é fato. Era a
tarefa que a nós cabia, conforme pensavam Descartes e Bacon, entre outros. E
ela por nós foi realizada.
Porém, não conseguimos, até o presente momento, ascender ao
patamar subsequente que é tornar o povo planetário em condições de conviver
fraternalmente. Urge conscientizá-lo da importância de se observar regras
comuns aos habitantes do Planeta.
O barco está à deriva. Dirão alguns que possíveis hecatombes
independem do gênero humano. Talvez!
O fato é que estamos fazendo esforços no sentido de uma
desestabilização do planeta, visível e crescente, gerada por nós mesmos. Mais
ou menos como: quanto pior, melhor. Acreditam os comandantes da nau Terra que
existe ainda muito tempo pela frente até que ocorra uma desgraça de proporções
planetárias. Enquanto isso, impera a ganância, o lucro desenfreado, o
solapamento das riquezas naturais, o que, consequentemente, afetam o
ecossistema. Extrai-se tudo o que for possível transformar-se em lucro, sob o
argumento da necessidade de energia, de combustível, para a geração de novos
empregos, para a produção de alimentos, etc. E que parte desses lucros
reverterá em “educação”, em “saúde”, em “segurança” para a população. Esse
discurso já se esgotou.
Sabe-se que riquezas foram, ao longo dos anos, retiradas de
regiões que eram sabidamente prósperas, cujas comunidades não tinham suficiente
educação e cultura para criar obstáculos a essa espoliação. E por quê? Porque é
fácil manejar um povo inculto. Contrariamente, a tarefa seria mais árdua se
entendimento houvesse das intenções escusas de seus mandantes. Mesmo
considerando-se a existência sempre de uma ala podre na comunidade, sobrariam
muitos outros para, quem sabe, impedir tais desmandos.
Na verdade, os comandantes da nau, de todos os matizes
ideológicos, não estão interessados em que hordas de famintos e incultos
sobrevivam. Portanto, esses não ocasionam receio aos timoneiros.
Agora, e aqueles ditos civilizados, cultos, o que estão a
fazer? Nada.
E esses também não são motivo de apreensão para os donos do
mundo. A esses: corrompe-se. Barganham-se favores, posições ideológicas,
desvios, lucros escamoteados em troca de somas em dinheiro, em participações
societárias e outros descaminhos.
Num visível faz de conta, criam-se Protocolos disso e
daquilo, Conferências sobre isso e aquilo. O que lá se pactua, já se sabe, de
antemão, não será posto em prática.
E o que sobra para aqueles que não negociam favores, que não
vendem a alma? Sobra a frustração de verem grandes projetos, em prol do
coletivo, serem engavetados, falando-se aqui dos Parlamentos por esse mundo
afora.
Por que o desinteresse em encontrar soluções pacíficas para
questões religiosas ou étnicas que se arrastam já há séculos? Há interesse
evidente em manterem-se acirradas tais disputas pelo lucro com a venda de
armas.
Há interesse no lucro, também, quando se fala na venda de
defensivos agrícolas proibidos, na contaminação de gêneros alimentícios postos
à disposição da população para consumo. E aqui não temos Parlamentos
envolvidos. Temos condutores de um mísero barquinho, tal a importância desses
“vendidos” na escala social.
Poder-se-ia perder a esperança com esses dados?
Sim, se nós, seres humanos, não fôssemos construídos para a
reflexão. O que importa, agora, é refletir.
Nelson Mandela
refletiu encarcerado durante 27 anos. Saiu melhor do que quando entrou? Saiu
mais prudente, mais sábio, isso sim. Ele, que já detinha conhecimento diferenciado,
considerando a média do seu povo, lapidou, ainda mais, sua capacidade de
entendimento do que o cercava e de quais meios disporia, daquela hora em
diante, para mudar o status quo vigente. Com essa atitude superou-se,
tornando-se mais civilizado na acepção ampla do termo.
Conforme ele declarou:
-“A Educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o
mundo”.
E ela ensina-nos a refletir, digo eu.
Diante do impasse em que nos encontramos, há que se adotar
um novo modelo educacional que repouse numa visão humanística, reflexiva,
aliada às ciências exatas e à tecnologia. Unindo-se os meios de informação e de
comunicação, torna-se mais fácil essa educação globalizante, o que não quer
dizer que se homogeneízem as culturas nacionais e regionais. O que se busca é
um enfoque transdisciplinar que possibilite entender a condição humana, os
tipos de sociedades e de economias que existem, com o objetivo final de
atingir-se a PAZ em todas as
dimensões, a saber: cósmica, planetária, social e individual.
Temos que ter em mira a abolição da depredação do Planeta. Isso
exigirá uma conscientização universal que, parece, está a caminho.
Embora tenhamos, ao que se sabe, apenas uma Fukushima a
causar sobressalto constante e sem evidência de solução, acredita-se que a
humanidade dispõe de instrumentos materiais poderosos para capacitar-se na
obtenção de informações sobre o Planeta. E, a partir daí, compartilhar
conhecimento com vistas à solução de problemas que atinjam a humanidade.
Com essa educação reflexiva poderemos perceber os avanços
tecnológicos que vêm em auxílio do coletivo, daqueles outros que pretendem
apenas o controle total dos indivíduos e a destruição da memória histórica dos
povos. Incluindo-se, igualmente, os demais avanços que permeiam todas as
guerras, mesmo as que ostentam a bandeira camuflada da paz.
O ideal nessa Educação Planetária, tão necessária, é que
elaboremos uma visão de unidade do gênero somada à diversidade de culturas e de
indivíduos. Daí, teremos, finalmente, uma civilização planetária.
Madiba estava
certo, quando afirmou:
-“Sonho com o dia em que todos se levantarão e compreenderão que foram
feitos para viverem como irmãos”.
Por outro lado, observa-se, de forma realística, que o
século que se inicia nos apresenta uma nova ordem mundial: a da economia de
mercado, independente de matiz ideológico. Aliás, isso é coisa também esgotada.
O que a globalização aponta é uma aparente distribuição de tecnologia
salvadora, mas um visível empobrecimento de todos os países.
Os fundamentos da nova ordem, na verdade, continuam os
mesmos: exploração de tudo e de todos, lucros desenfreados, depauperamento
físico, psicológico, intelectual, social e ético dos indivíduos como um todo. E
o Planeta em total desequilíbrio saberá dar o troco na hora da exaustão.
Nesse instante, a meia dúzia de cérebros maquiavélicos,
comandantes dessa nau, sucumbirá igualmente. Tomara que consigam acordar-se em
tempo de evitarem tal hecatombe.
Rezemos!
De qualquer sorte, uma educação reflexiva oferece-nos a
possibilidade de não nos tornarmos alienados pela incompreensão do que acontece
pelo mundo. O que não sei se serve de consolo. Talvez, sirva de despertar.
Somos uma população planetária, conquistamos os mais distantes recantos, mas
longe estamos, ainda, de atingirmos o patamar civilizatório.
Aguardemos o transcorrer do século.
Depende de nós - Ivan Lins
Herdeiros do Futuro – Toquinho
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