Um querer ver e um ver para crer. Um misto de ansiedade e de expectativa ainda não confirmada.
Se Aninha, ao acordar, tivesse certeza do que a esperava naquela manhã, teria levantado daquela cama que nem um foguete.
Achava que tinha se comportado direitinho, que tinha feito o seu melhor. Pairava a dúvida, porém.
Permaneceu por algum tempo deitada, tentando visualizar por entre a cortina, que separava o quarto da sala e que balançava levemente ao sabor do vento, alguma possível imagem que lhe desse a certeza de que lá estaria aquilo que pedira àquele visitante tão esperado. Aquele que carrega tantos pedidos que, digo eu, deve ter uma organização a lhe dar a devida retaguarda.
Quando sentiu que já era tempo suficiente para aquele velhinho ter deixado o seu pedido depositado na poltrona da sala, levantou-se e espiou por entre as dobras da cortina. E lá estava Joãozinho, o boneco tão sonhado e que a acompanhou por muitos e muitos anos.
Este trecho de um conto fez lembrar-me de que a retrospectiva, sob o olhar infantil, é quase sempre positiva. Todos se comportam ao longo do ano e, portanto, merecem os presentes pedidos.
Já a retrospectiva deste ano, apresentada ao vivo e em cores pelos nossos meios de comunicação, só nos traz apreensão.
Por isso, fiquei espiando, espiando e tentando vislumbrar o que levaríamos de presente daquele saco que Papai Noel carrega e que dali pode saltar quase tudo.
Para começar, ele resolveu inovar. Este ano fez uso de uma mala. Talvez seja para não prejudicar tanto a coluna. Interessante que os presentes eram todos iguais, de um mesmo tamanho, embora de valores diversos: uns valendo mais, outros menos.
A sua morada não é mais no Polo Norte. Pasmem! É no Brasil. E a condição, para sermos merecedores de seus presentes, é não sermos obedientes às boas regras de conduta. E dessa forma e nessa escala foram distribuídos tais presentes.
Meus olhos, um tanto quanto ainda infantis, jamais assistiram a tais cenas de distribuição.
Por isso, diante desse quadro e com as derivações que o meu olhar adulto, hoje, prospecta, aguardei por mais tempo, até a primeira quinzena deste novo ano, para imaginar o que nos espera.
Ainda não me atrevi a ultrapassar a cortina. Continuo a espiar do meu canto, saboreando um bom chimarrão para colocar as ideias em ordem.
Os presentes de Natal, aqueles já referidos, foram distribuídos para os que não se comportaram.
Agora, o verdadeiro bom velhinho, quero crer, continua povoando a mente das crianças: o que é muito bom. Talvez, ele não desça mais pela chaminé, mas seja possível encontrá-lo comodamente sentado nos shoppings das cidades. O reino da fantasia precisa continuar existindo. Aquele reino que alimenta o olhar de uma criança.
Quanto a nós todos, os que cumpriram as regras da boa convivência, da lealdade, da integridade moral, da correção nas atitudes, resta continuarmos observando a evolução dos acontecimentos.
Oxalá tenhamos a oportunidade de imprimir novos rumos à sociedade em que estamos inseridos. Aquela que, verdadeiramente, queremos. Aquela que guarda no olhar a expectativa do reconhecimento pelo bom comportamento.
Daí, vai valer ultrapassar a cortina.
Por enquanto, eu continuo espiando este novo ano, de longe, sem vislumbrar nitidamente o que existe a nos aguardar.
Claro, que o exercício de espiar é também bastante excitante.
Acho que vou levantar-me e achegar-me para mais próximo da cortina. Quem sabe terei uma boa surpresa.
Meu olhar, por vezes ainda de criança, é criativo. Por isso, tenho quase certeza que construirei com imaginação, esperança e fé em mim própria e nos que me cercam uma história de realizações e sucesso neste ano de 2018.
E para quem ainda não entendeu que deve mudar, segue o poema abaixo.
Tudo isso para substituir aquela palavra que definiu o país no ano de 2017.
ESTAMOS DE OLHO!
Bem-Te-Vi - Renato Terra
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