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segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

QUAL O MOTIVO?

A comunicação entre nós, seres humanos, deve repousar na língua escrita, bem como na oral, quando necessário.

O que o whats possibilita? A comunicação imediata e contínua.

Refletir e expor ideias exige textos e não apenas frases soltas.

O celular apenas nos mantém informados. Caberá a cada um de nós buscar fontes escritas e analisá-las, sob vários aspectos, para verificar sua veracidade. Diante dessa constatação, nosso fazer literário será o responsável pela análise interpretativa.

Outro importante aspecto são as imagens.

Elas, geralmente, são reveladoras de verdades nem sempre interpretadas de forma correta.

Diante de tudo isso, observa-se que a dúvida perpassa em inúmeros momentos.

O fato é que vivemos, nos dias atuais, com incertezas constantes.

As imagens oriundas dos estádios de futebol são, atualmente, ao que parece, verdadeiras. Elas revelam as emoções, o sentimento de alegria, de expectativa, de euforia. Atualmente, infelizmente, apresentam momentos de agressão entre os jogadores durante o jogo. Também entre a torcida que, quando perdedora, apresenta sua insatisfação através de agressões mútuas, dentro e fora dos estádios.

Será que a violência é um traço humano que, atualmente, faz parte do cotidiano, independentemente do local onde se encontre?

O que será que está tornando o ser humano cada vez mais agressivo?

A resposta é uma incógnita e ninguém está preocupado em achar um motivo ou uma razão.

Agora, se houvesse normas rígidas que punissem tais atitudes, esses momentos de agressão não seriam corriqueiros.

A Educação poderá ser um excelente canal de transformação.

Está faltando um posicionamento da sociedade exigindo das autoridades competentes regras e normas para serem aplicadas. 

Não percamos a esperança, pois é o que nos resta.














segunda-feira, 14 de outubro de 2024

A VOZ



Mas que tom de voz!... Que coisa inebriante, suave, ao mesmo tempo sensual, era aquela voz. Samantha nascera assim. Desde pequena, já deliciava os ouvidos de quem a cuidava. A cada raro choramingo, ouvi-la era um prazer renovado. Tinha também um ouvido apuradíssimo, capaz de ouvir o cair de folhas ao chão. Quando iniciou seus primeiros passos, apresentou uma mania. Vivia na ponta dos pés. Quando menos se esperava, estava a menina caminhando na ponta dos pés. Isso levou sua mãe a procurar a opinião de um pediatra que, de pronto, lhe assegurou que a pimpolha seria “uma bailarina”. Não havia com o que se preocupar.

Já na escola, seus coleguinhas de aula cercavam-na para estarem próximos àquela voz. Ao ler suas redações, era ouvida com atenção pelos colegas não tanto pelo conteúdo, que, diga-se de passagem, era bom, mas pela voz, pelo tom mavioso que imprimia às palavras.

Assim, foi tornando-se adulta, já consciente do atrativo que sua voz encerrava. Diziam que ao telefone era imbatível. Tornara-se uma voz um pouco mais “caliente”. Imagine declamando um soneto de Shakespeare, articulando um “thou” usado pelo dramaturgo, o conhecido e atual “you”. Sua professora ia à loucura.

Dizem que até comprou um apartamento, só com contatos telefônicos. Apareceu, só ao final, para fechar o negócio.

Seus colegas de trabalho deliciavam-se com sua voz pelo telefone. As pessoas com as quais mantinha contato telefônico, e eram muitas, pois o serviço exigia, ficavam encantadas com aquela voz. Despertava em seus ouvintes uma grande curiosidade. Alguns chegavam a convidá-la para ir até seus locais de trabalho, pois queriam conhecê-la.

Mas nada disso a impressionava. Queria apenas continuar seduzindo por seduzir. Houve até uma vez que exercitou seus dotes, agora no canto, numa encenação de peça famosa de João Cabral de Melo Neto. Foi elogiada por colegas e pela professora, que a distinguiu com uma dedicatória num livro oferecido como brinde – “A uma cantora a se revelar”.

A verdade é que conseguiu fisgar seu marido pela voz, não pela beleza. A cada ligação, a atração crescia um pouco mais. Ao longo dos anos, essa parceria sobreviveu em grande parte pelos poderes dessa voz, que incendiava, acalmava, embalava, ponderava: que amava. Mas, como não se pode mandar NELE, hoje, Samantha está só.

Sabe que ter essa voz sempre foi uma bênção, nunca motivo de preocupação. Pois não é que hoje essa voz tem-se deparado com algumas situações insólitas! Fico a imaginar como Samantha reagirá a ligações reiteradas de pessoas que estão a necessitar de uma palavra amiga, de um incentivo, de um ouvir atento. Há até quem já diga que dorme melhor depois de ouvi-la. Por incrível que pareça, essa voz tem permanecido límpida, sonoramente doce, jovial, envolvente. Mas seu público já não é o mesmo. O que antes era brincadeira da sedução, hoje é a realidade da carência do outro. Deverá Samantha usar sua voz agora para confortar, não mais para seduzir?

Acho que é a hora do devolver. Devolver tudo o que de melhor Samantha recebeu. Tentar entender as necessidades do outro, ao ver-se nelas. Todos nós as possuímos. O tempo dela, de agora, exige reflexão, ponderação, compreensão, empatia. Samantha terá que exercitar também seus ouvidos. Ouvir as pausas, os silêncios. Ouvir quase o inaudível, que nem o som de sua infância, de folhas caídas ao chão. A voz de hoje, porém, é mais exigente, busca a alteridade, um sinal de maturidade.

E como sua voz continua sedutora, embora madura, mãos à obra.

Pois Samantha também está carente. Carente da voz do outro. Não importa qual o tom.

E nesta ciranda da vida, a qualquer compasso se habilita, pois é um “pé-de-valsa”, desde neném.










quarta-feira, 24 de julho de 2024

CADA VEZ MAIS BREVES...


A sensação é cada vez mais presente de um tempo cujos dias se sucedem de uma forma rápida.

Talvez, antes, não houvesse tantos mecanismos diários de atenção que o ser humano, hoje, tem a seu dispor.

Um celular, em mãos, repassa o que está acontecendo no planeta.

Nossa atenção voltada para ele, não nos deixa sentir e apreciar o nascer do sol.

Embora desligado, ao acordarmos o celular está ali junto a nós.

Objetos que não existiam e que, convenhamos, não faziam falta no nosso cotidiano.

Não éramos infelizes porque não os tínhamos. A procura pelo outro ser era um convite ao encontro, à conversa amiga, ao bate-papo sobre o dia anterior, à comunicação sobre os compromissos individuais e coletivos.

O telefone existia, embora usado quando necessário. Imagens eram buscadas nos jornais impressos, bem como as notícias. Essas, também, nas emissoras de rádio.

É confortável ter tudo na palma da mão através do celular.

Isto, porém, está tornando o ser humano distante, embora pareça perto, da busca que o possibilitava escolher e refletir sobre a notícia circulante.

Tudo o que é entregue rápida e constantemente carece de uma reflexão necessária.

E quantos usuários de celulares terão essa capacidade e tempo para fazê-la?

Será que o tempo está passando mais depressa mesmo? Ou seremos nós, pelo acúmulo de mecanismos de informação e pelo tempo gasto no uso dos mesmos, que temos essa sensação de celeridade?

Será que ainda buscamos com o olhar o sol se pondo? Ou as estrelas formando belas imagens no céu?

Temos, com urgência, de voltarmos a resgatar essas belezas através do nosso olhar.

Pois é ele que nos mantém maravilhados com nossa capacidade humana de nos sentirmos partícipes desses momentos.

Não esqueçamos, portanto, que somos produtos da maravilhosa Criação Divina.

 

 

 

 

 

 

terça-feira, 23 de março de 2021

DEIXE-SE ABRAÇAR...


Naquele galpão, Belinha ouvia os barulhos que ela própria fazia preparando a comidinha para a Mariazinha, sua boneca preferida.

O silêncio fazia parte da rotina dessa menina. Vivia pelo pátio, pelo jardim, espiando embaixo da casa e junto às árvores frutíferas.

Este silêncio era rompido pelo cantar dos bem-te-vis, dos quero-queros e de outros pássaros cujos cantos enfeitavam aquele silêncio habitual.

Acredito que esta menina, a partir deste cotidiano “silencioso”, adestrou sua audição a ouvir sons mínimos, mesmo vindos de longe.

Hoje, reconhece que o silêncio é audível e necessário para o refletir sobre tudo que a cerca.

Com ele pode-se dar asas à imaginação.

Ele permite que pousemos o olhar sobre uma tela e possamos absorver suas nuances, o significado do traçado escolhido, a expressão facial de uma figura humana. Enfim, com ele é possível olhar para uma imagem e sobre ela refletir, aflorando nossa sensibilidade à apreciação do belo.

A partir dele, também, podemos apreciar, de olhos bem abertos, o céu que nos cobre, percebendo quão pequenos somos. Imaginar e sonhar são propiciados pelo silêncio, também.

Os sonhos de Belinha eram sustentados pelo silêncio. E sua imaginação construía, então, cenários possíveis que transformariam, num futuro ainda distante, aquele galpão em um lugar mais acolhedor para uma convivência mais real e fraterna. Sua Mariazinha cresceu e representou todas aquelas pessoas com as quais conviveu por muito tempo.

Dessa forma, o silêncio, que nos acompanha, é um bem maior, pois possibilita que percebamos outros tantos bens que são importantes e que fazem parte do nosso dia a dia.

O silêncio permite que ouçamos a Sinfonia nº 40 em Sol Menor, o conhecido 1° Movimento, Molto Allegro, de Mozart, sem interrupções.

O silêncio permite que troquemos ideias com a amiga que veio nos visitar.

O silêncio, que nos permite orar, é também aquele em que ouvimos nosso próprio choro, oportunizando um refletir sobre quais motivos nos levaram a este momento.

O silêncio, que precede um beijo apaixonado, será sempre lembrado.

Aquele silêncio, imediatamente anterior ao primeiro choro do ser que acaba de nascer, é inesquecível.

O silêncio recebe, também, aquele teu conhecido visitante que vem te cumprimentar todas as manhãs em tua janela, cantando: bem-te-vi!

O silêncio permite que leias aquele poema que transborda palavras sonoramente ajustadas, fazendo dele, o silêncio, um ingrediente necessário para um sentir d’alma reconfortada.

O silêncio faz parte de nós desde antes do nascimento até o depois do apagar das luzes.

Deve ser curtido, porém, durante a nossa caminhada, pois traz inúmeros benefícios.

Serve para refletirmos sobre nossos comportamentos frente a insultos, inveja, mas, também, diante das saudações e ao apreço dos amigos, bem como às expressões de amor dos nossos entes queridos.

Sem dúvida, o silêncio pressupõe um tanto de solidão. Não muito! Basta deixar o celular off line por algum tempo.

Se tiver à disposição uma paisagem, melhor ainda. Nada sofisticado. Pode ser um fundo de quintal, uma área da qual se possa enxergar o céu.

Ah! O céu! Quantas imagens, quantos matizes diferentes, quantos tesouros escondidos nos reserva. Basta que tenhamos ou cultivemos a capacidade de sonhar. Isso vai nos alimentar com pensamentos criativos que colaboram para um bem viver consigo e com os demais.

Aos escritores e aos poetas, em especial, o silêncio possibilita a imaginação navegar por entre aquelas nuvens e, com criatividade, repassar ao leitor toda a sua emoção.

O poeta sabe como fazê-lo. A palavra poética é um remédio para a alma.

E o poeta precisa do silêncio.

Portanto, siga a receita em que o silêncio é um importante ingrediente.

O resto virá: seja você poeta ou não.

Não o temas.

Assim, deixe-se abraçar pelo SILÊNCIO.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 18 de março de 2019

UMA PAUSA...



Uma euforia tomou conta de todos. De repente, parece que foi ontem. Novamente, uma necessária pausa instalou-se.

Quem não precisa de uma pausa?

O Carnaval existe para isso.

Uma pausa para esquecer, para cantar, para requebrar, para deixar levar-se pelos variados ritmos que nos identificam como um povo alegre e festeiro.

Multidões dançando e cantando ao som de ritmos bem nossos. O Carnaval de rua, cada vez mais, recupera sua importância. Um cantor levando multidões a cantar, a acompanhar o ritmo com o próprio corpo, com as mãos, com os pés.

Parece que não é mais suficiente assistir, de uma arquibancada, ao desfile de sua escola de samba.

Não! Decididamente, não!

É preciso pular, dançar. Ter ao lado outro igual a si. Fazer par.

Uma pausa para o virtual. Pular ao lado de outro, ouvir sua voz, fazer evolução para encantar a si e ao outro. Uma pausa para o encantamento. Uma pausa para o esquecimento.

Como encantar-se sendo cercado por tantos problemas?

Não é para qualquer um.

É uma possibilidade, porém, para um cidadão brasileiro. Neste sentido, somos privilegiados. Criatividade é conosco. Isto traz junto uma capacidade de superação frente aos problemas cotidianos.

Uma pausa, portanto, é necessária, é desejável, é aguardada durante um ano inteiro. E, depois de instalada, quem quer voltar?

Haja fôlego para tanto gingar, tanto pular, tanto cantar...

Ah! Quanta diversidade, tantos Brasis, mas somos todos brasileiros. Que sorte!

A nossa pausa anual reforça esta nossa característica, que é única: a alegria. A alegria de conseguirmos extrair tanto de uma única pausa anual.

É uma lástima que um povo tão criativo e alegre não tenha a sorte de possuir governantes a sua altura.

Somos trabalhadores, sim. Não somos vagabundos. Aquele cidadão, já idoso, continua a passar assobiando, todas as manhãs, pela minha rua. Puxa um carrinho com materiais recolhidos pelo bairro. Descarrega o conteúdo em um depósito que o encaminha para uma firma de reciclagem. Ele faz parte da história de meu bairro.

Assim, também, o Carnaval faz parte da história e da cultura brasileira.

Através dos sambas-enredos de nossas escolas de samba, a história desse país é recontada. Por vezes, mais real e verdadeira. Mesmo estando sob o manto da beleza, não é suficiente para encobrir os momentos mais dramáticos. Mesmo querendo denunciar fatos, situações e tragédias anunciadas, este povo consegue revestir com suavidade e beleza o que, num primeiro impacto, foi chocante e dilacerador.

Que belo povo!

Oxalá, consigamos manter pausas que nos aliviem e, ao mesmo tempo, nos unam para o desfrute de momentos alegres e criativos.

Afinal, pausas servem para que as emoções aflorem. E nós, seres humanos, somos por elas constituídos.

E é bom quando podemos demonstrá-las de forma criativa e agregadora.

Desejar mais o quê?

Que nossas pausas sejam mais de encantamento do que de alívio. Que oportunizem atos criativos ao invés de apenas serem momentos de descompressão. Que as mãos encontrem outras para o cumprimento afetivo e de solidariedade. Que as pausas deste tipo sejam permanentes em cada encontro.

Que o olhar perdido, no azul do céu, seja uma pausa em nosso viver diário. E que, mesmo sob chuva intensa, enxerguemos, através da vidraça, a importância dela como equilíbrio da Natureza e como espelho que representa nossas próprias lágrimas.

Acredito, firmemente, que o ano, que nos separa desta pausa tão aguardada, seja preenchido por encontros que nos aproximem mais de movimentos culturais que, também, são momentos de ruptura com os males que nos afligem, pois o horizonte se amplia nos possibilitando sonhar.

Afinal, o nosso Machado de Assis, afirmava que “a arte de viver consiste em tirar o maior bem do maior mal”. (livro “Iaiá Garcia”, Editora Ática, SP, 1998)

Acredito que a cultura, num sentido amplo, é a mola propulsora para a melhora pessoal e da sociedade que nos cerca. Que mais pausas surjam para que exercitemos o poder de reflexão, pois somente dessa forma sairemos do atoleiro em que nos encontramos.













quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

DEIXE ESTAR...


Um aspirar profundo. Um banco, árvores, muitas árvores. Um pouco além, um saxofonista executa belas melodias. Música no ar tem o dom de aproximar pessoas. O resto ficou para trás. Por horas, por instantes? Não importa. A música tocada a pedido, por mais de uma vez, deixa bem claro, em sua letra, o que importa. Solte para o amanhã a resposta a tudo, se não puder tê-la hoje.

No céu, embora ainda azul, algumas nuvens ameaçadoras, bem ao longe, anunciam presença. Mas, deixe estar...

A luz do sol é uma força presente. Ela traz a esperança de que, se desaparecer, voltará a brilhar a qualquer novo momento.

No ar, uma melodia que traz a lume o que de melhor se pode extrair da constatação de que, apesar de tudo, deixe estar...

Não se quer muito, não se quer tudo. Apenas que todos, que ali estão, tenham seus momentos de possíveis respostas a tantas indagações que pairam no ar, que animam as conversas, mas que também fazem refletir os que ali descansam suas mágoas, suas frustrações, seus problemas, dilemas e dúvidas. Não se preocupem. Deixem estar...

E a música continua suave, embora intensa em sua proposta.

Um grupo pequeno de pessoas aproxima-se do saxofonista e faz uma selfie. Aliás, várias.

A boa energia presente é partilhada até mesmo por aqueles mais sisudos e que passam discutindo, mas suspendem o palavreado por percepção do mais audível, do mais sonoro.

Até as árvores parecem querer participar daquela onda sonora que circula por entre elas. Suspendem o farfalhar das folhas, impondo um silêncio para que também possam impregnar-se daquela energia.

Dos bancos, alguns acompanham, com o bater do pé, o ritmo da melodia executada.

Momentos desfrutados por quem se deixa levar pela música no ar. Assim, muitos sairão dali com as energias renovadas, prontos para aguardar as respostas pessoais no momento certo, deixando que o tempo, sábio e inexorável, traga a solução. Levarão a certeza de que nada melhor do que deixar estar...

A letra da música LET IT BE aponta Maria, mãe de Paul McCartney, como sendo aquela pessoa, já falecida à época, que, em sonho, lhe teria sussurrado palavras sábias que serviriam de orientação durante a jornada de seu filho. A letra deixa claro que uma resposta aos problemas, em momentos difíceis, sempre existirá. Basta que aguardemos, que deixemos estar... Ela virá no momento certo.

É a Esperança que, na crônica anterior, fez-se presente como única alternativa ao desejo de Paz Mundial.

Segundo Paul, ele não se incomodava quando apreciadores da música relacionavam o nome de sua mãe ao de Maria Santíssima.

E o saxofonista?

Vamos aguardá-lo no próximo domingo, na mesma praça, no mesmo banco.

Aguardemos...

Deixem estar...

Ah! O músico fechou a manhã com IMAGINE e ALELUIA!

Imagine, leitor! As letras de ambas as músicas fazem-nos sonhar com dias melhores.

Quer melhor repertório para uma manhã de domingo na praça?

Por alguns momentos, vivemos o compartilhamento daquele espaço em paz, sem absolutamente diferença alguma entre todos os que ali estavam.

Sonho de alguns?

Talvez! Afirmo que senti a Esperança sair de mãos dadas com cada um, pois se multiplicou para atender a tantas sementes que ali plantou.

De qualquer maneira, não se preocupem.

Deixem estar...



Let It Be - Paul McCartney









segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

UM ENCONTRO INESPERADO



Fazia já algum tempo que não a encontrava. Numa escada, ao descer, topei com ela. Durante a infância, encontrava com ela seguidamente. Eu, bem pequenina. Ela, também. Eu cresci um pouco: não muito. Ela, porém, permanece como antigamente: pequenina.

Ela trazia-me, à época, a sensação de fragilidade.

Hoje, ainda assim se encontra: frágil.

Talvez, por isso, tanta emoção senti ao vê-la. Ou, quem sabe, por fazer parte daquela etapa da vida em que tudo era surpresa, admiração e deslumbramento com as coisas pequenas. Olhos de criança que se detinham para observar mais. Por pura curiosidade, é claro. Não sei dizer exatamente. Tampouco, tenho explicações. Só o que sei é que há milhares de seres frágeis que hoje estão sendo exterminados sem dó nem pena. Não terão a possibilidade de guardar na memória e reviver cenas da infância como esta que revivi num degrau de uma escada, na antevéspera do Natal.

Época mais propícia: impossível. É quando distribuímos mensagens de amor, paz e esperança.

É quando muitos se solidarizam com os mais fracos, em especial as crianças, promovendo ações de ajuda. Mas há os que nunca as promovem, em época alguma. E há, por desgraça, os que dizimam, ferem e matam ao longo de já vários anos.


Onde buscar a esperança?

Dentro de si, pois ela é a nossa capacidade de ir atrás, de não desistir, de não ficar esperando. E o caminho? Cada um saberá qual seguir.

Cada um, na sua aldeia, metaforicamente falando, saberá quais ações empreender para preservar nossas crianças e jovens do infortúnio de não terem imagens infantis para reviverem, pois cenas de guerra apagaram sua infância. Muitas vezes, tombando pobres inocentes pelo caminho da vida.

Salvemos, no que for possível, aqueles que estão próximos a nós. Quanto aos filhos das guerras fratricidas, seus algozes receberão as penas devidas quando do Julgamento Final.

Viver é perigoso, já dizia Guimarães Rosa. Se contarmos, porém, com atitudes e ações de quem não apenas olha por olhar, o caminho ficará menos pedregoso para quem transita por esta margem da estrada.

Olhemos ao redor, fixemos o olhar por debaixo da marquise, não pisemos no cobertor imundo que protege do frio, exijamos dos órgãos competentes ações que ressocializem tantos indivíduos ainda potencialmente produtivos. Contribuamos, de alguma forma, com ações coletivas que visem este desiderato.

E quanto aos dilapidadores do patrimônio público e às organizações criminosas, de quaisquer matizes, que a Justiça delas se encarregue.


Aproveitemos o Natal para fazermos uma reflexão sobre como andam nossas atitudes frente às mazelas que nos cercam.

Proteção é tudo o que o ser humano mais deseja. E para isto é necessário que tenhamos um olhar compassivo, mas, também, direcionado à solução dos problemas que envolvem tantos excluídos.

Necessidade de proteger foi o que o meu olhar sentiu (porque o olhar não deve apenas enxergar, mas sentir) quando, ao descer a escada, vi uma JOANINHA arrastando-se, perdida no granito, longe do seu habitat.

Abaixei-me, coloquei meu dedo para que subisse. Por não me reconhecer, pois já não guardo a fantasia e a inocência dos meus três anos, dispensou minha ajuda. Pedi, então, à jovem, que atendia a portaria, que trouxesse uma folha de papel, para que a mimosa subisse. Imediatamente, fui atendida e a minha JOANINHA salva. Colocamos a pequenina no jardim, junto a uma flor que desabrochava. E lá ficou ela. Acho que feliz!

O que me surpreendeu foi a atitude da jovem, que passou sua mão sobre o meu braço, dizendo que achar uma JOANINHA traz sorte. E ela queria um pouco.

Sinceramente, não sabia disso. Fui pesquisar. Se é verdade o que li, fui sempre bafejada pela sorte, pois as JOANINHAS sempre fizeram parte da minha vida.

E encontrar esta, na antevéspera do Natal, foi o melhor presente!

Que continuem aparecendo outras tantas JOANINHAS pelo meu caminho!

Que elas, como símbolo de felicidade, de amor, proteção, renovação, harmonia e equilíbrio nos acompanhem neste novo ano que se inicia daqui a pouco.

E para esperançar nossos corações, atentem para a letra do samba Juízo Final de Elcio Soares e música de Nelson Cavaquinho.


É o que, firmemente, aguardamos que aconteça.






Juízo Final – Nelson Cavaquinho e Elcio Soares – 1973