Para quem nasceu num cinco de agosto, há décadas atrás, este inverno até que não está de assustar. O que surpreende são as diferentes temperaturas que perpassam um único dia desse inverno atual. Havia uma continuidade, que atravessava os invernos de então, sem grandes oscilações. Hoje, vai-se de um extremo a outro, de um frio intenso a temperaturas mais próximas do verão, às vezes, num só dia.
Tudo, ao que se percebe, anda, assim, como que aos solavancos. E nada quase mais nos surpreende.
As amizades que, aparentemente são estáveis e definitivas, de repente, não mais o são. Desaparecem, somem com o passar dos anos, restando apenas a lembrança de um rosto que se vai transformando ao longo do tempo, acontecendo de, vez por outra, não se reconhecê-lo mais quando visto em qualquer esquina da cidade.
Tenho a sorte, acho, de manter algumas poucas, é claro, mas que valem ouro. Que se mantiveram ao longo dos anos e que, embora não presentes continuamente, fazem parte daquele rol diminuto que se deve guardar a sete chaves, conforme diz a letra de Milton Nascimento.
Exemplo desse seleto grupo é aquela que me presenteou com um almoço. E eu, quando do convite despretensioso, nem desconfiei dessa intenção.
Que grata surpresa foi para mim!
Que grata surpresa foi para mim!
Por isso, embora raramente o faça em crônicas, declino aqui o nome da amiga que me comoveu com o seu gesto. Seu nome: Lizete Maestri. Obrigada, amiga!
Agosto para mim é, portanto, um mês cálido. Embora o dia do nascimento tenha sido um dia gélido, ganhei, de imediato, o colo quente e terno de minha mãe. Esse, assim se manteve durante toda a permanência dela junto a mim.
Depois, um longo tempo após, Agosto trouxe o aconchego de uma lareira em companhia de alguém que comigo desfrutou momentos marcantes. Um dia, porém, deparei-me mateando sozinha, ao pé da mesma lareira. As circunstâncias o levaram para o alto. E nesse caminhar do tempo, um dia saiu uma poesia que diz assim:
TEU OLHAR
Quisera poder senti-lo novamente:
A leveza das mãos, o olhar malicioso.
É o que vem à mente
Quando lembro de ti, meu ser amoroso.
Quisera desdobrar o tempo
E voltar de mansinho àquele momento
Da sedução e do beijo roubado,
Conquistado, em meneios orquestrados.
Dei-te amor no momento certo.
Dele guardaste sensações tão fortes,
Que nunca mais esqueceste tal instante.
E eu, pra sempre, ganhei teu olhar amante.
Que pena! Talvez, tu possas ainda espiar-me daí.
Porque eu, daqui, procuro, em cada estrela,
De novo, uma vez mais, teu brejeiro olhar.
Para minha alegria, sobraram duas flores: uma filha, que amo sobremaneira, e uma neta, também amada, que é o futuro incerto, porém promissor. Mereceram, ambas, as poesias que seguem:
À ESTRELA MAIOR
És minha obra-prima,
Produção rara de encontrar.
Tens todos os dotes que acaso possas almejar.
E eu, todas as rimas para te encantar.
Vez por outra te sinto mais próxima.
Rejubilo-me com o teu falar.
És mote para o meu cantar.
És vida para meu reiniciar.
Tens esperança no brilho do olhar.
És jovem e justa no agir.
Não te atemoriza o renovado partir,
Nem te assusta o necessário continuar.
És para mim o recomeço,
O endireitar do avesso,
O devir que a mim encanta,
A esperança que me abranda.
Teus saberes: com eles quero contar.
Teus valores: deles compartilhar.
Teu futuro: dele participar.
Tua vida: acompanhar.
Se te fui surpreendente no versejar por primeiro,
Quero a emoção expressar por derradeiro.
Amo-te com constância e desvelo.
Vejo-te em mim o tempo inteiro.
E assim, qual estrela a brilhar,
Almejo que comeces a partilhar
Tua luz, teu sentir, teu vibrar,
Com todos aqueles que te sonham conquistar.
DA JANELA, O MAR.
Olhinhos brilhando, anjinho parece.
Pela mão pega a vó, vem, vem, vem.
Em frente à janela, o que é que tem?
Dedinho aponta o mar que lá vê.
Eu vejo o mar da janela, vó!
Parece absurdo? Que nada!
É a pura verdade, que nó!
Ficamos a apreciar o mar que nada.
Entre prédios, no horizonte, o mar se movimenta.
Entre nuvens se redesenha a todo o instante.
Plúmbea nuvem uma ponte inventa.
O mar e a terra, em fugaz instante.
Nuvens se alternam: escuras e claras.
Ondas que mudam de lugar, terra que vai e vem.
Mar de nossas lembranças,
Que há pouco tivemos a nossos pés.
Férias que já foram.
Que saudade vem!
Como é belo criar, mente sempre errante.
Que fase da vida é possível assim viver?
Todas, quando se sabe a chama manter,
Vestida de indelével fantasia, pura emoção, imaginação...
Qual arco-íris no céu, em dia de sol e chuva,
É como uma tiara a enfeitar o céu dos passarinhos.
Tudo que é, pode não ser, depende dos olhinhos,
De olhares sonhadores, quais amores em noite de lua.
O segredo é simples, como simples são as crianças.
Basta manter sempre um olhar luminoso.
Perseverar no caminho das estrelas.
E nossa criança interior, brilhando, nunca se apagar.
E desse modo, eu e Nicole a tudo assistimos.
Com um olhar sempre novo, o do recriar.
A cada evento, metamorfoseamos o que vemos.
Vivemos, assim, sempre, a nos maravilhar.
Pois, assim, Agosto chegou uma vez mais: renovado e fraterno nas amizades; filial e profundamente amoroso com os muito próximos.
BEM-VINDO, AGOSTO!
Brightman & Carreras – Amigos para Siempre – Friends Forever
Canção do Amigo – Rui Biriva
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"Muitos ciclos já se passaram; alguns vivemos juntas. Mas tuas perspicácia, sensibilidade e delicadeza permanecem. Basta ler tuas poesias. "
Lizete Maestri