Pois da janela vê-se uma árvore, que estende seus galhos, onde repousam alguns bem-te-vis.
No alto de um prédio, mais ao longe, chegam, em dupla, os conhecidos papagaios, comuns no bairro.
Sobre um telhado, bem mais próximo, um atento gato, vez por outra, espreguiça-se.
E o Sol a tudo e a todos ilumina na tarde que desce sobre o horizonte.
Um cachorro late ao longe.
O perfume que exala do pé de lavanda, bem mais próximo, completa o cenário.
É reconfortante sentir-se integrado nestes momentos que se sucedem frequentemente.
Ouvir o canto de um pássaro ou mesmo o silêncio é apaziguador.
Elevar o olhar e perceber, no céu, o movimento lento das nuvens e uma luz brilhante que se despede, pois o seu tempo findou. Quem sabe outra virá logo mais. Ou, talvez, a escuridão total seja o cardápio desta noite que se aproxima.
Um ciclo virtuoso que nos aproxima do nosso viver diário.
Sem esta percepção adulta, uma menininha, tempos atrás, também se encantava com esse acender e apagar de luzes. Tudo “comandado pelo céu” que cobria o pátio da sua infância.
Claro que, no escuro da noite, ficava muito difícil seguir o carreiro daquelas formiguinhas que se sumiam no porão de sua casa.
A seleção de imagens não se fazia presente naquela etapa da vida. Todas as imagens chegavam para acrescentar. Tudo era novo.
E hoje? Será tudo já tão velho, tão conhecido?
Com certeza, não.
Aquilo que encanta, que apazigua e que faz sonhar continua acrescentando, embora tais cenas sejam tão velhas quanto os olhos que hoje deparam-se com outras cenas pouco conhecidas: tão mais novas, tão mais violentas.
É fundamental para um equilíbrio no viver cotidiano que selecionemos as imagens e os cenários que nos cercam.
Tragédias reiteradas, mostradas à exaustão, devem ser vistas com cautela. Debates, em que as manifestações revestem-se de ironia, escárnio e termos chulos, tendem a se tornar desprezíveis por quem se preocupa com aquilo que tais comportamentos suscitam.
Não podemos e não somos alienados.
De forma constante, porém, ficar à mercê, em programas televisivos que se sucedem, de imagens e manifestações verbais que depõem contra os próprios participantes, nada acrescenta ao público que assiste.
Selecionar o que acrescenta, o que irmana, o que promove o conhecimento e o que encanta deve ser, cada vez mais, uma necessidade para que mantenhamos o equilíbrio corpo/mente.
É bom que sejamos um pouco crianças e possamos enxergar, no meio deste turbilhão, aquele carreiro de formigas, todas unidas, levando comida ao ninho, numa típica ação comunitária que a todas beneficiará.
Busquemos este caminho, pois somente ele nos qualificará como seres humanos dotados de pensamento crítico, reflexão e poder de decisão.
Urge que selecionemos aquilo que não ultrapasse o limite do tolerável.
Não podemos transigir com a barbárie que invade os lares pelas telas, espalhadas pelos cômodos e, igualmente, por aquelas outras constantemente manuseadas, a qualquer instante, em qualquer lugar, ao longo dos dias.
Salvemos a nossa capacidade de emocionar-se quando o olhar se perde no azul do céu, quando o som da cachoeira, seguindo seu rumo, nos leva junto ou quando o aperto de mão é o convite para uma nova amizade.
Estas são coisas que acrescentam em qualquer tempo e em qualquer idade.
Afinal, aproveitemos esta época de renovação para revermos nossos propósitos de vida e quais sentimentos, comportamentos e imagens farão parte do nosso dia a dia.
FELIZ PÁSCOA!
FELIZ PÁSCOA!