domingo, 12 de abril de 2020

ENQUANTO HÁ TEMPO


Diante daquela palavra escrita em letras maiores, Aninha sentiu a quebra daquele silêncio que estava instalado em sua sala. É como se aquela palavra tivesse rompido o silêncio e reverberasse em seus ouvidos, como algo presente e perfeitamente audível. E a palavra surgira da voz de uma personagem que acabara de pedir PERDÃO, com tamanha veemência ao seu interlocutor, que Aninha, leitora contumaz, absorveu aquela súplica como algo concreto e presente.

Suspendendo a leitura, deu-se conta da força que encerra a palavra, quando bem elaborada num contexto, sendo capaz de causar tamanho impacto.

O silêncio, naquele instante, fora rompido. E qualquer palavra fica feliz quando é capaz de romper o silêncio. E o silêncio sente-se feliz ao dar passagem à companheira que dele tanto precisa: tanto na sua origem, quanto na sua verbalização.

A felicidade do silêncio é poder sentir-se audível. Isto acontece quando o escritor faz nascer suas palavras, sob a forma de textos, no silêncio dos momentos que desfruta. Também acontece quando deve existir silêncio para que o texto seja lido a uma plateia ou apenas lido pelo leitor que desfruta dele para melhor sentir a força das palavras, como aconteceu com a nossa Aninha.

No universo da palavra, ela também precisa do silêncio em dois momentos: quando é gerada e quando é lida ou ouvida.

É uma parceria que se completa a cada encontro. Ambos necessitam um do outro. E a felicidade de um é, também, a felicidade do outro.

Um fica feliz quando lhe dão passagem para ser ouvido ou quando participa do ato de criação de um texto, que necessita de reflexão para nascer.

E ela extravasa sua alegria quando é capaz de nascer para o mundo, através da reflexão de quem a busca incessantemente, fazendo uso dele para este ato.

E, duplamente feliz, quando alcança seu ouvinte ou leitor através dele: o silêncio.

O momento, por que passamos, reúne estes dois parceiros, como forma de superarmos os obstáculos a nós impostos temporariamente.

A solidão, o afastamento a que estamos submetidos trouxe o silêncio até nós. E isto possibilitou que revisássemos nossas atitudes para conosco e para com o próximo.

Temos que vê-lo como um amigo que chega para valorizar nossos momentos.

Tem servido para que reflitamos sobre como temos gerado situações de divisão em termos globais, em todos os sentidos.

Ele tem favorecido o nascimento de uma reflexão a que muitos não estão acostumados. Sendo esta sua missão maior, isto é, ser audível no ato da reflexão.

Agora, alegria maior será para ele quando ela, a palavra, após este tempo, precisar novamente dele. Ele far-se-á presente, quando chamado. Ela, então, poderá fazer nascer um novo Contrato Social que será lido sob um silêncio: sentido por todo o planeta.

Um compromisso de todos, os que o habitam, com a integridade desta Casa que nos foi ofertada, que nos acolhe e a qual devemos olhar com gratidão, com desvelo até, pois dela extraímos tudo aquilo que precisamos. 


Nada mais justo e coerente que retribuamos com posturas corretas, ações solidárias e uma universal cooperação, para que não precisemos enfrentar, num futuro, um silêncio que se poderá tornar eterno, onde as palavras não mais caibam porque se expirou o tempo para que haja um renascimento.

















sexta-feira, 3 de abril de 2020

UMA LUZ


Quando aqueles olhinhos viram o fundo do poço, lá encontraram uma luz que se arrastava da borda até o fundo. O pai segurava aquela menininha que teimava em querer ver o que existia escondido lá dentro. O que viu, finalmente, foi uma luz que repousava sobre a água depositada.

Satisfeita, nunca mais se atreveu a repetir aquela sensação, pois a curiosidade tinha encontrado uma resposta.

Bem mais tarde, seus olhos já se detinham sobre a distante lua que iluminava seu pátio. Uma luz bem mais distante, mas que não lhe trazia temor algum. Apenas a fazia imaginar e, mesmo, enxergar elevações, como se fossem montanhas que sobressaíssem daquela distante esfera brilhante. Uma luz que, de lá, lhe anunciava haver a possibilidade de algum contato com alguém, com algo que sua imaginação de adolescente começava a tornar-se criativa.

Bem mais próxima dos dias atuais, esta luz adquiriu um novo significado, bem menos tangível, mas, nem por isto, menos real. Tão real que pode clarear o seu caminho, inundar-se com ela em cada amanhecer ou até mesmo vê-la em sonhos.

É a luz interior que nos possibilita sentir a sua força mesmo que o dia já se tenha ido, que seja escuro novamente. Mesmo que a lua não se apresente, esta outra luz nos permite caminhar em segurança por quaisquer veredas desta vida.

O que importa é ter presente a certeza de que o clarear, de que o amanhecer faz parte do ciclo pelo qual somos guiados.

Esta trajetória da luz, que nos acompanha desde o primeiro abrir de olhos, é perene. Contamos com ela e a compreendemos melhor com o passar do tempo.

Na época do poço, tudo era tangível. A lua, porém, já exigiu esforço maior de imaginação. Esta última, que nos acompanha e guia, é sentida: não precisa ser vista.

Pra que vê-la? O importante é senti-la e sabê-la presente.

Não importa o grau de escuridão que venhamos a enfrentar. O que faz a diferença entre os que sentem esta luz interior, e os que não a sentem, são a paz e a esperança que os primeiros desfrutam em maior intensidade. Saber-se guiado por ela faz toda a diferença.

O olhar da criança de ontem adquiriu a certeza que a procura da luz não foi em vão.

Lembrem que “um novo dia sempre vai raiar”.

Aguardem, companheiros de jornada!

Unidos em torno dessa LUZ, tudo vai clarear.





 Samba Clareou – Diogo Nogueira e Orquestra Sinfônica Arte Viva





domingo, 29 de março de 2020

UM SÍMBOLO



O poder, a glória, a nobreza e a beleza são todos atributos cujo símbolo é um só: a coroa.

Ela poderá ser leve, pesada, mais confortável ou não. Seu detentor, porém, jamais reclamará, pois é um objeto tão valioso para a autoestima de quem o sustenta. Seu tempo de duração acompanha o tempo do portador. Outros detentores suceder-se-ão na roda do tempo. Nem tudo, porém, resume-se a isto.

Houve outra que foi dolorosa e que é única. Não houve sucessores. E seu tempo de duração é eterno, porque eterno é seu portador.

Sua mensagem?

Revela puro amor e não poder. Amor para com o outro, para com os outros, para com todos.

Foi crivada de espinhos, por isso demais dolorosa.

Quem a suportou: deu a vida. Não apenas um tempo da vida do portador, como as demais coroas que, por aqui, ainda resistem.

Quando se dá a vida, o ato eterniza-se. E foi o que aconteceu.

Entre a cruz e a espada é como se encontram os habitantes desse solo planetário.

A espada?

Uma coroa que trouxe a morte.

A cruz?

Aquele símbolo de eterno amor que, presentemente, os habitantes deste planeta buscam em fervorosas orações.

Como não emocionar-se ao vermos os seres desse planeta, ao que parece, mais unidos pelo temor da morte que não distingue tipos de coroa.

Esta coroa veio para que todos reflitam sobre os desatinos que têm sido cometidos contra a Natureza existente neste planeta, contra todos os seres vivos que aqui habitam.

É uma minúscula coroa com uma força abissal.

Talvez, sua origem tenha sido arquitetada por alguns poucos seres destituídos de humanidade, que se locupletariam com seu resultado.

De qualquer sorte, está servindo para a humanidade refletir sobre suas ações nefastas uns contra os outros e contra o planeta.

Agora, como diz o conhecido samba:

Desesperar Jamais!

Enquanto estamos quietos, a Terra, durante este período, está em processo de cura.

E nós?

Resta-nos segui-LO, conforme diz a letra que acompanha o vídeo que segue.

E, claro, adotarmos uma conscientização sobre os problemas que afetam a CASA que nos acolhe e, nesta medida, exigirmos posturas dignas, conscientes e proativas de novas políticas socioambientais.

E o símbolo? Serviu para acordarmos.





I Will Follow Him (legendado)